Agende uma palestra em sua escola / universidade!!

Agende uma palestra sobre história do Brasil com o livro "A Ilha dos Animais" através do e-mail: ler.7@hotmail.com

terça-feira, 30 de março de 2010

O homem ocidental, vilão da hora?


Esta crônica vem provocar um contraponto à demonização do homem branco ocidental, que vem sendo feita por alguns setores da mídia, e também pela opinião geral de muitos dos intelectuais do Brasil.
Cursei a graduação em história, e durante todo o decorrer do curso, encontrei no meio acadêmico algumas opiniões, tanto de alunos quanto de professores, visitantes e palestrantes, criticando severamente o chamado “Eurocentrismo Histórico”, ou seja, o estudo da história sob o ponto de vista do povo europeu, suas conquistas e cronologia. Algumas críticas eram bem construtivas como as que sugeriam adotar novas visões sobre a Ásia, África e América do Sul. É evidente que quase todas as culturas das quais temos registro contribuíram em algum ponto para a civilização atual. Porém havia comentários por vezes exagerados de alguns pensadores (as), ora fazendo parecer que todos os problemas do mundo atual fossem culpa do homem branco ocidental cristão (é exatamente essa a referência).
Se iniciar a fala pela questão ambiental, irão dizer que o modelo ocidental capitalista é destrutivo e prejudicial ao meio ambiente, incluindo aí flora e fauna. É óbvio que ninguém atualmente dirá que é a favor de uma imensa chaminé fabril gerando fumaça um dia inteiro, mas vejamos como andava a flora por aqui quando da chegada dos tropeiros na região onde se situa agora o Rio Grande do Sul: Pesquisadores arqueológicos da Unisinos descobriram várias ossadas de espécimes de bicho-preguiça e tatus, em escala bem maior do que a de hoje, estes seriam considerados gigantes se vistos atualmente em alguma floresta. Bem, devemos supor que não foi o homem branco que dizimou tais espécies, pois nunca houve relatos de tais animais no século XVII ou XVIII, o que nos leva a crer que tais espécimes foram extintas por algum outro motivo, ou até mesmo, e porque não, por aqueles povos nativos “amarelos” americanos que aqui estavam desde muito antes dos “perversos” europeus invadirem o território. Ainda sobre ecologia, quando se fala em poluição, efeito estufa e derivados, a culpa logo recai exclusivamente sobre o modelo capitalista americano, mas e a China que atualmente é o segundo maior poluidor mundial? Deveríamos então transferir uma parcela dessa responsabilidade ao homem amarelo asiático confucionista/taoísta?
Um debate que recentemente vem sendo travado é pela questão das cotas raciais no Brasil, uns defendem que seria uma forma de compensação pelos trabalhos forçados dos africanos, outros são contra. Eu entendo como muito confusa e arbitrária essa política, talvez não pelos africanos “puros” ou seja, os que tem fisionomia negróide e consequentemente teriam uma descendência direta com os escravizados. Mas a questão vai mais além: Ali Kamel em seu livro “Não somos racistas” faz um balanço do sistema de cotas em universidades, e conclui que os pardos também estão incluídos nelas, mas analisemos: o fato do indivíduo surgir de uma união entre africanos e europeus, ou africanos e amarelos (descendentes de indígenas), como é o caso de boa parte da população nacional, dá o direito desta pessoa de usufruir de cotas para descendentes de escravos negros? Que inclusive levam a denominação de afro-descendentes? Não deveriam ser chamados então de euro-afro-descendentes, ou afro-euro-descendentes, ou será que o termo “euro” os tiraria o direito à essa cota?
Falando agora da culpa “absoluta e intransferível” dos brancos opressores sobre o escravo negro. Bem pouca gente por aí sabe que muitos dos escravos negros que aqui chegaram foram capturados e “deportados” por tribos mais fortes na África. Na região de Angola e Guiné, ocorria o processo chamado escambo, onde guerreiros mais poderosos e bem organizados prendiam membros de tribos mais fracas e vendiam aos europeus, muitas vezes em trocas de fumo e armas. Devemos dizer então que uma pequena parte da culpa pela escravidão negra no Brasil foi do homem negro africano (de religião ou culto local)?
Muitos historiadores condenam o comandante espanhol Francisco Pizarro por ter conquistado e explorado o povo Inca no Peru, no início do século XVI. Novamente a ideia que muitos tentam passar é a de os brancos exploradores teriam invadido as terras daquela pacífica civilização e destruído seu harmonioso convívio. Naturalmente houve a guerra, o impacto cultural, assassinatos e exploração econômica, como em quase todos os casos de guerras entre diferentes povos ao longo de toda a história mundial conhecida. Mas o que acontece é que o povo Inca também não se tornou um grande império do nada, nem da noite para o dia, foi o resultado de séculos de dominação cultural e exploração econômica sobre povos e tribos mais fracas, onde todos os vencidos deveriam pagar sem questionamento tributos ao Imperador Inca que governava, contexto onde havia o domínio de um estado Teocrático. Aquele povo também fazia rituais que hoje seriam considerados criminosos pela atual civilização ocidental: sacrifícios tanto de humanos como de animais, em datas religiosas consideradas importantes. Alguns registros citam que em ocasiões como as sucessões imperiais, eram sacrifícados dezenas de crianças. Sendo a maioria desses sacrifícios humanos feitos com os derrotados em guerra, como uma espécie de tributo à dominação.
Situação similar pode-se dizer dos Portugueses que exploraram os índios brasileiros (hoje denominados populações nativas, segundo consenso dos historiadores), mas devemos lembrar que muitas das tribos locais eram antropófagas, ou seja, canibais! Devoraram guerreiros da tribo derrotada a fim de extraíram forças do espírito do outro. Sem fazer juízo de valor, de certo ou errado, a questão é que para essas tribos esse ritual fazia todo um sentido, assim como deveria fazer sentido para os Europeus que aqui chegaram, ter feito o que fizeram aos povos nativos, em plena idade pós-feudal, de mercantilismo, de cruzadas, uma época de guerras religiosas e derramamento de sangue cotidiano. Esses “indígenas” eram considerados pela igreja cristã como seres que deveriam ser catequizados, salvos, a qualquer custo, sobretudo se levarmos em conta que pela lógica cristã a salvação da alma é ligada diretamente ao Reino dos Céus. Sendo a morte uma espécie de redenção e portal de entrada no paraíso divino. Desse modo fica mais fácil entender a posição e as atitudes tomadas pelos colonizadores, tudo são detalhes do contexto histórico em cheque.
Qualquer estudioso das ciências sociais vai concordar que é muito complexo julgar ou mesmo avaliar as diferentes culturas e relações dos mais diversos povos ao longo da história. Então por qual motivo alguns historiadores/sociólogos/filósofos insistem em atribuir à civilização ocidental todas as responsabilidades pelo que aconteceu e acontece de errado ou ruim no mundo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário